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Hospital improvisado
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Publicado em 14/05/2024

Roseli, natural da cidade de Porto Alegre, assumiu o cargo em outubro, e desde então, já viu duas enchentes tomarem Eldorado do Sul - dessa vez, em uma dimensão muito maior.

"A gente não perdeu só o nosso local de trabalho, mas 90% das pessoas que trabalham na cidade, perderam também suas casas, suas histórias."

"Nós da área da saúde, não tínhamos para onde ir e nem onde se esconder. Viemos para o prédio da prefeitura e trabalhamos sob condições muito difíceis: molhados, ilhados, sem comunicação."

Apesar das condições, Roseli conta que a equipe não parou de trabalhar e tem dado seu máximo com os recursos disponíveis.

"Alguns profissionais da saúde ficaram quatro dias aqui dentro, sem ter como sair e atendendo a população que chegava com hipotermia, febre, dor de garganta, cortes... Na nossa estrutura mínima de pronto-atendimento que levantamos dentro de um prédio que é totalmente administrativo."

O local de trabalho da equipe de saúde é descrito por Roseli como uma pequena sala de emergência com um respirador e alguns leitos.

Para chegar ao atendimento, é preciso subir um lance de escadas.

"Isso dificulta para alguns pacientes, mas é o lugar mais seguro que a gente tem. Nenhuma rua da cidade ficou seca. E ainda estamos com esse alerta iminente de um repique, de uma nova enchente."

Roseli conta que as nove unidades de saúde da cidade foram atingidas de alguma forma.

"Visitamos algumas das unidades hoje, e além de muitos danos pela água, os locais foram saqueados. Levaram remédios, equipamentos, cadeiras, refrigeradores..."

A enfermeira diz que, com a possibilidade de uma nova enchente nos próximos dias, ainda não foi possível fazer um balanço das perdas materiais, mas já é possível dizer que as equipes vão precisar de muitas doações.

"Tem muita gente tentando ajudar, mas precisamos de muito mais do que comida e remédios. Vamos precisar de máquinas para conservar vacinas, artigos médicos, computadores, respiradores, toda uma estrutura."

Para Roseli, a ideia de reconstrução nos próximos meses causa medo.

"Eu choro em casa com a minha família, mas a hora que eu abro aquela porta eu sou a Roseli, enfermeira. A gente coloca a armadura porque precisamos dar o que eles precisam."

"Daqui a pouco vamos ter que caminhar com nossas pernas, e isso é uma coisa que me assusta ainda. A gente nunca passou por isso. Eldorado nunca havia sido atingida nessa proporção. Eu espero que a gente continue tendo essa ajuda para se reerguer."

A enfermeira lembra chorando o impacto que sentiu ao ver pessoas desabrigadas e desalojadas.

"Eram milhares de pessoas andando na estrada, sem ter para onde ir, procurando comida para seus filhos... Eu atendi uma pessoa que disse assim: 'Eu sei que eu preciso sair, mas pra onde eu vou? Eu não tenho mais nada.'"

"São cenas assim que não vão sair da minha memória. Jamais, jamais."

"A gente desmorona, mas juntamos os caquinhos, vestimos a armadura e vamos em frente. A gente sabe que a gente vai conseguir se reerguer. Só que nesse começo vai ser bem difícil."

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